Para entender a crítica, sempre é bom saber um pouco da bagagem de quem a escreve. Pois então, voltemos a década de 80, quando li meu primeiro gibi de super-heróis, uma história do Spectreman onde ele enfrentava dinossauros (se bem me lembro, era um triceratope) em um dos gibis lançados pela Editora Bloch na época. Isso era 85 ou 86, não lembro bem o não, mas lembro que foi comprado numa ida para fazer o rancho do mês (era época de inflação, e se você bobeasse, no outro dia seu salário não valia mais nada) num supermercado da rede Zaffari.
Daí pra diante, abri minha mente
para essa nova arte. Comecei a comprar mais quadrinhos, só que agora, o que eu
comprei foi um gibi onde uma cara com uma capa vermelha segura uma moça loira,
em seus braços, também com uma capa vermelha. Essa era a capa de uma das
histórias de “Guerra nas Infinitas Terras” (uma das melhores sagas da DC que já
li) onde Superman segurava uma Supergirl totalmente machucada, depois de uma
batalha contra o “Monitor”, o vilão da saga. A partir daí (em parte pela
fantástica arte de George Perez) comecei a consumir quadrinhos da DC e,
conforme a editora Abril publicava as novas sagas da DC no Brasil, ia
adentrando um mundo fantástico dos quadrinhos de super-heróis, lendo o reboot
fantástico que John Byrne deu ao Superman entre outras sagas. Ainda não lia
muito Batman nessa época, mas depois que li “The Dark Knight” de Frank Miller,
virei fã.
Infelizmente, a vida continua e
os bons tempos de infância se vão. Felizmente pra mim, nunca deixei de ler
quadrinhos, porém, mudei um pouco os rumos de minha leitura da DC para a Marvel.
Explicando, ainda acompanho, porém estou mais “por dentro” do que acontece na
Marvel do que na DC. Meu conhecimento nos quadrinhos da DC parou no meio da
década de 90, portanto, pode ser que fale algumas besteiras sobre o filme que
podem ter sido baseadas nessa época, porém acredito eu que serão mínimas.
Vamos ao que interessa, o que
achei sobre o tão aguardado “Batman vs. Superman”? Pra mim, uma grande
DECEPÇÃO. E explico: nunca vi o Batman ter sua essência tão desfigurada quanto
ao que foi feito nesse filme. Mas vamos por partes... Se ainda não viu o filme, não leia pois terão diversos SPOILERS.
Vi em alguns sites onde um dos
grandes problemas do primeiro filme do Superman (esse é a continuação), foi a
forma brutal como Superman matou Zord. Nos quadrinhos, em uma magnífica saga
escrita e desenhada por John Byrne, também vemos essa disputa. E também como no
filme, Superman precisa abdicar de todas suas convicções em não tirar nenhuma
vida e acabar com os kryptonianos que vieram a terra e queriam dominar o
planeta e a raça humana. Superman não tendo outra alternativa, abre uma caixa
contendo kryptonita e expõem os 3 bandidos kryptonianos a radiação da pedra,
matando-os. No filme, o herói quebra o pescoço do vilão. Em suma, pra mim, um
dos personagens mais bem caracterizados no filme é o Superman. Vemos no filme
toda a aflição dele em tentar ajudar a humanidade de todas as formas e ser
interpretado mal pela imprensa oportunista, que tenta difamá-lo. Todas as
características que fizeram com que eu gostasse do personagem nos quadrinhos
estão expostas no filme.
Porém, o que dizer do Batman...
Ah, o Batman de Bem Affleck. No meu entendimento, o problema não é o ator (que
até interpretou bem e tem o biótipo para o personagem) mas sim o que fizeram
com o caráter do Homem Morcego. Batman se tornou um “ditador”, onde apenas o
que ele faz é o correto e não precisa ser julgado, porém quando outro faz a
mesma coisa, é o fim do mundo, e deve ser exterminado pois é uma ameaça. Estou
me referindo no parágrafo acima a ele julgar aos danos colaterais causados pela
batalha de Superman contra Zord em Metrópolis que acabou dizimando algumas
pessoas e um dos prédios das empresas Wayne na cidade. Ou seja, o Batman
matando pessoas (quando ele fez isso nos quadrinhos, tirando “Dark Night” que
não é da cronologia??) pode, o Superman não?
Batman bebendo? Na cena onde ele
está na cama com uma de suas conquistas, vemos Bruce Wayne bebendo um resto de
champagne ou vinho que sobrou da noitada. Porém todos sabemos (pelo menos quem
lê quadrinhos) da convicção e preparo que o “Cavaleiro das Trevas” tem.
Abdicando de toda e qualquer substância para manter o corpo são. E além disso,
desde quando Alfred, o mordomo, é um expert em tecnologia? Aliás, Alfred está
sempre desencorajando seu patrão a seguir a vida de vigilante... E os pesadelos
com os morcegos?!?! Achei que o Batman tivesse pesadelos com a morte dos pais,
e não com morcegos gigantes. Bem, são tantas as divergências que ficaria horas
e horas escrevendo. Mas, adiante...
Outro grande problema do filme é
pegar duas das maiores sagas dos heróis e tentar resumir em um filme de 2h e 30min.
Além disso, são duas sagas de universos totalmente distintos.
“Dark Knight”, de onde surge o
confronto entre Batman e Superman, é uma saga, como já falei antes, de um
futuro alternativo do Batman onde ele se torna hiper violento em razão do que
está acontecendo com os EUA na época e faz de tudo para acabar com a criminalidade
que chegou a pontos absurdos. Nessa saga, Superman é a representação do governo
e Batman, é a representação do povo. A batalha entre os dois é uma batalha de
ideais, não uma simples luta irracional, por motivos esdrúxulos e com um final
mais ridículo ainda como no filme. Aliás, se perceberem bem, o final do filme é
exatamente o oposto do final da minissérie, onde quem supostamente “ressuscita”
é o Batman.
“A Morte do Superman” é outra
saga, que se passa na cronologia real do Superman, cheia de pormenores e que se
estendeu por mais de ano, explicando quem era Doomsday, como o Superman
ressuscita, os clones e tudo relacionado.
O filme beira ao ridículo
tentando resumir tudo o que foi escrito em pouco tempo. Não dá para colocar “Porto
Alegre dentro de Viamão”.
Lex Luthor, o que dizer do
ridículo e insuportável Lex Luthor do filme. O vilão beiro o estúpido. Jerry
Siegel e Joe Shuster, desculpem o termo, devem estar se revirando no caixão com
o que fizeram com sua criação. Lex Luthor é um homem de negócios, que tem uma
rixa agravada com o Superman por causa de Lois Lane. Ele nunca foi um pirralho
metido a cientista nazista, mimado e irritante como o protagonizado no filme. Que
essa seja a única experiência que teremos com esse ator. Nunca mais escalem ele
para o papel de Luthor. Simplesmente horrível.
Vamos falar da Kryptonita, o
calcanhar de Aquiles de todo kryptoniano. Pois bem, a kryptonita é uma pedra
radioativa com origem do núcleo de Krypton. Nos quadrinhos, lembro que Luthor
descobriu uma delas e mandou fazer um anel, para que o Superman não pudesse se
aproximar dele. Porém, a radiação da pedra fez com que Luthor tivesse que
amputar sua mão. Aquele pó de kryptonita não me desce pela goela até agora.
Primeiro, se o Superman respirasse aquilo, a radiação penetraria em seus
pulmões e ele morreria assim como aconteceu com seus conterrâneos quando ele os
matou. Bom, nem é bom me aprofundar nessa besteira que fizeram.
Mas nem só de coisas ruins o filme
foi feito. A luta do Batman no cais, para salvar a mãe do Superman contra os
capangas de Luthor é muito bem feita e coreografada. Pela primeira e única vez
no filme me senti como se o Homem Morcego que conhece estivesse aparecendo.
Outra coisa, o filme é visualmente deslumbrante, com todas as suas lutas e
efeitos especiais, mas é tudo que achei de bom. Ah, a Mulher Maravilha... Nem
deu tempo dela aparecer... Espero que usem mais ela no próximo longa, certamente
foi uma das coisas que se salvaram nesse filme.
Enfim, o filme tem algumas cenas
boas mas, em termos da essência dos personagens, principalmente do Batman, peca
demais. Não é ruim nem bom, fica no meio. Poderia ter sido muito, mas muito
melhor. Porém o diretor ficou tentando entreter crianças de 10, 12 anos com uma
luta ridícula entre super-heróis quando podia muito mais se aprofundar nos
personagens e criar um ambiente melhor para o próximo longa da série.